Monday, June 18, 2007

OS OLHOS RASOS DE ÁGUA - Eugénio de Andrade

Cansado de ser homem durante o dia inteiro
chego a casa com os olhos rasos de água.
Posso deitar-me ao pé do teu retrato,
entrar em ti como num bosque.

É hora de fazer milagres:
posso ressuscitar os mortos e trazê-los
a este quarto branco e despovoado,
onde entro sempre pela primeira vez,
para falarmos das grandes searas de trigo
afogadas na luz do amanhecer.

Posso prometer uma viagem ao paraíso
a que se estender ao pé de mim,
ou deixar uma lágrima nos meus olhos
ser toda a nostalgia das areias.

É hora de adormecer na tua boca,
como uma marinheiro num barco naufragado,
o vento na margem das espigas.

Eugénio de Andrade

(extraido de os poemas da minha vida - Urbano Tavares Rodrigues - Edições Público)

4 comments:

Anonymous said...

Grande poeta. O Miminhos é um mimo

Pena said...

Belo poema. De estarrecer.
Como o poeta consegue descrever, com tanto encanto e delícia, o amor.
Um amor vivido. Um amor terno e sentido.
Eugénio de Andrade sempre fez parte, sempre constou, dos meus poetas preferidos.
Escolha excelente, num blog de excelência.
Não estou muito para eleições, mas o seu seria a minha preferência indiscutível. Surpreende! Conquista! Enternece!
Um Bem-Haja
Abraço
pena

Anonymous said...

Fico arrepiado quando leio Eugénio de Andrade.

Obrigado pelo bom gosto,
e pela partilha.

;)

Anonymous said...

Good post.